Esta época de final de ano é bem corrida. Minha produção aumenta e a dos alunos também.
Conclusão: fornos trabalhando muito!
Sempre achei o resultado da queima a gás bem mais interessante, e fazia muito tempo que não usava o forno elétrico para uma queima a 1280 graus. Depois de trocar as resistências todas do  forno elétrico, quis experimentar uma queima de esmalte para mostrar a diferença para as alunas.
E o pior aconteceu: o termostato apresentou um defeito e o forno não desligou, ultrapassando em muito a temperatura.
As peças fundiram junto com as placas refratárias formando um bloco compacto impossível de remover do fundo do forno com a talhadeira.
A única maneira foi alugar uma britadeira e ir quebrando em uma rotação baixa, aos poucos, o bloco maciço.
A agonia de ver tantas horas de trabalho, empenho e criatividade de várias pessoas reduzidos a um amontoado de pedra é indescritível!
Em meio a frustração, decepção, e tristeza, questionei muito como aquilo tinha acontecido ao mesmo tempo que me dei conta da fragilidade do processo.




Essa é a imagem do que foi retirado do forno. As placas refratárias fundidas com as peças que mal se consegue identificar.

 Tive que alugar um rompedor hidráulico para quebrar o bloco compacto que se formou.




A cerâmica me fascina a cada dia. Cada abertura de forno é tão única, tão especial, e ao mesmo tempo tão misteriosa.
Não são exatamente as cores que me surpreendem, mas os efeitos e a textura.
Fico pensando quantas variáveis teriam que ser controladas para poder obter sempre o mesmo resultado: argilas, concentração dos óxidos para a pintura, granulação e procedência de todos os minerais para a fabricação dos vidrados (esmaltes), curva de queima (aquecimento do forno), atmosfera do forno, além de claro, as diferentes maneiras de produzir e pintar que cada um possui.
Tenho pouco mais de 20 anos de experiencia em cerâmica e isso me garante algumas suposições mas nenhuma explicação ou conclusão.
Os resultados das queimas tem sido tão bons e surpreendentes que resolvi comentar alguns. Escolhi algumas peças maravilhosas que estavam no último forno que abri para compartilhar com vocês .
Todas são peças de alunas que agradeço muito por enriquecerem tanto meu trabalho.
A queima foi feita em 14 horas, em forno a gás, cone 9 (1.280graus).

Prato em paper clay com impressão de renda. O oxido de cobalto foi aplicado com pincel e lixado. Vidrado aplicado com revolver (ar comprimido)- Eliana Vidotto


 Travessas feitas com argila creme. Ao vidrado transparente de formulação própria foi acrescentado 20% de oxido de titaneo, que foi aplicado com pincel e tirado o excesso com uma esponja seca. O vidrado foi aplicado por cima.- Silvia Frare



Pedaços de vidro de garrafas coloridas foram colocados no fundo da peça sobre o vidrado transparente. Oxido de ferro e manganês foram misturados ao mesmo vidrado e aplicados com pincel nas bordas.- Caroline Moorby


 O oxido de cobalto foi aplicado com pincel e lixado. Oxido de cobalto misturado no vidrado foi aplicado com pincel nos relevos, e por ultimo o vidrado aplicado com revolver (ar comprimido) na mandala toda.-Silvia Frare


Oxido de ferro diluído em água foi aplicado na peça toda e lixado. Vidro quebrado de parabrisa de carro foi colocado nos relevos feitos com moedas e por ultimo houve a aplicação de vidrado transparente com revolver na peça toda. -Maria Nascimento


 Argila argila branca shiro para a construção do prato. O desenho foi feito a mão livre e o vidrado aplicado com revolver na técnica de baixo esmalte.- Caroline Moorby


 Pintura com pincel feita com corantes e óxidos misturados à base transparente de vidrado e ultima aplicação do vidrado feita com revolver.- Evelyn Sassaki


 Argila creme para a construção da fonte e ox de titaneo misturado ao vidrado.-Luciana Cintra

Argila branca com chamote foi usada para a construção desta grande bacia. Oxido de manganes aplicado e lixado; e sobre os desenhos escavados oxido de titaneo com o vidrado. A peça foi esmaltada com o mesmo vidrado transparente das outras. -Luciana Cintra


Esmalte colorido para 1200 graus aplicado com pincel em sobreposição sobre argila creme. Meu vridrado transparente foi passado por cima com o revólver.- Julia Torres

Os esmaltes com óxido de ferro e corante vermelho foram "espirrados"  criando o desenho. A peça foi esmaltada com o mesmo vidrado transparente das outras. -Ana Luisa

Porcelana canadense foi usada para a construção dessa mandala. O oxido de cobalto foi aplicado com pincel e lixado. Corante vermelho e amarelo bem diluídos ao vidrado transparente foram aplicados com pincel nos relevos, e por ultimo o vidrado aplicado com revolver (ar comprimido) na mandala toda. -Ariane Dorigon


 Esse efeito de pintura é conseguido espirrando uma bisnaga com esmalte e óxido diluído.- Claudia Lima

O oxido de ferro foi aplicado com pincel e lixado. Corantes e óxidos diluídos ao vidrado transparente foram aplicados com pincel nos relevos, e por ultimo o vidrado aplicado com revolver (ar comprimido) na mandala toda. -Caroline Moorby


             BRAVO ALUNAS QUERIDAS! ISSO TUDO E MUITO MAIS ESTÁ LINDO!!!!


Mostra do dia 10 de novembro





O atelier estava lindo. As mandalas feitas com elementos de cerâmica esmaltada e colados em discos de arado antigos produziu o efeito que havia imaginado: o contraste do brilho, da cor, da textura!












Hoje pela manhã abri o forno. 12 horas de queima a gás para atingir lentamente os 1280 graus. Uma "pequena' espera de 36 horas para poder abrir a porta e começar a retirar lentamente cada peça analisando os efeitos, os defeitos, as formas e cores....Amo isso!



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Novidades, qualidade, e preço justo


Este ano inovei no formato e tamanho das peças. Usei discos de arado antigos como suporte para as mandalas. O resultado ficou lindo! A delicadeza da porcelana, do paper clay, do grés, em contraste com a rusticidade do ferro! 
Compartilho com vocês o vídeo que foi ao ar domingo, dia 15 de setembro pelo SBT.
Apresenta um pouco da minha história, e motivações, numa sequencia de imagens muito boa.

clik aqui para ver areportagem




A oficina começou logo cedo no sábado.
Os participantes estavam entusiasmados com algumas peças que haviam visto, curiosos para conhecer a técnica de preparação da massa e ansiosos por fazer seus próprios experimentos.







Mostrei como transformar os papeis em polpa, escolhemos e calculamos as porcentagens e os tipos de papel e fizemos 3 tipos de massas: com porcelana, grés e terracota.







A proposta de trabalho foi criar objetos decorativos com a técnica de placas e rolinhos. Muita criatividade e delicadeza marcaram a fase de execução dos objetos. Algumas peças foram decoradas com óxidos e vidrado quando ainda estavam úmidas.









Usei o forno a gás, com monoqueima a 1280 graus.
O resultado foi lindo! Ao abrir a porta do forno a visão foi surpreendente: em meio a peças grandes e pesadas, ia encontrando o sutil retorcido das formas mais delicadas, a brancura da porcelana, o desafio e o sucesso de um trabalho feito com muito talento!

As fibras de celulose conferem ao paper clay, a meu ver, sua maior vantagem: a plasticidade. 

É possível curvar e dobrar placas e rolinhos de diferentes espessuras com facilidade e melhores resultados, além disto, as peças racham e trincam menos na secagem do que as feitas com argila convencional.
                       
Outra vantagem de incorporar celulose na argila é que podemos “remendar” ou acrescentar argila em uma peça quando ela já está rígida (com uma porcentagem de umidade pequena). Nesse estado, um pouco além do ponto de couro, as emendas em outros tipos de massas correm grande risco de trincar durante a secagem. 

 Quando a celulose queima ela desaparece da massa criando micro porosidades, o que a deixa mais leve, mas também mais porosa.

A leveza é importante quando se trata de bijuterias, algumas peças de decoração ou mesmo esculturas, no entanto a porosidade é uma grande desvantagem quando se produz utilitários.
                  
mandala em paper clay de porcelana com monoqueima a 1280 graus


Paper clay é qualquer tipo de massa cerâmica acrescentada de celulose.
Grês, terracota, porcelana ou outros tipos de argila podem se tornar paper clay (respeite a temperatura de queima da massa escolhida). A proporção de celulose e o tipo de papel usado podem variar também. Quanto mais fibra for adicionada à argila, mais forte ela ficará enquanto estiver crua, mas em compensação ficará mais frágil quando queimada.


Fibras de celulose diferentes produzem variados resultados. Podemos usar papel sulfite, filtro de café, caixa de ovo, papel toalha, papel higiênico, etc... Cada um destes tipos de celulose possui um determinado comprimento de fibras. Quanto mais longas, menor a porcentagem a ser acrescentada na argila (filtro de café, por exemplo).
Não use papel glaceado (revista), pois ele contém colas e resinas impermeáveis, portanto insolúveis. Cuidado também com a utilização de jornal, pois a tinta tipográfica pode conter chumbo que é liberado na queima.


Mandala feita em paper clay de porcelana











Este é um trabalho da Ligia Thomé, uma de minhas alunas queridas e talentosas. 

Uma folha natural foi usada para imprimir a argila, que depois de bem seca foi queimada a 800 graus.

O óxido de ferro foi passado com pincel e lixado.
Por cima do óxido de ferro foi aplicado óxido de cobre também com pincel, manchando um pouco a folha.

Para a aplicação do vidrado (esmalte), costumo usar revólver de ar comprimido, porque dá uniformidade na aplicação e não tira o óxido colocado.

A peça foi então queimada em forno a gás a 1280 graus. Faço queimas bem lentas. Esta durou mais de 14 horas.



Fiquei muito feliz com o resultado da nossa oficina. O momento que passamos juntos foi delicioso. Além de conhecer duas técnicas muito interessares do trabalho em cerâmica, cada integrante levou para casa um objeto único e super personalizado. Uma recordação linda, útil e para sempre!