ENGOBES NA CERÂMICA



Como integrante da plataforma de ensino de cerâmica online Sou Ceramica, compartilho com vocês minha aula sobre engobes que será lançada em início de 2024

 

 

 

Apresentação do curso

 

Falarei sobre os engobes de uma maneira muito pessoal. 

Na aula compartilhei minha experiência, passando pela maneira como preparo, com duas receitas bem legais e mostrei as duas técnicas de aplicação que mais uso aqui no atelier. 

Não fui exaustiva no tema nem muito técnica, apenas passei um pouco da minha experiencia de muitos anos trabalhando com eles. 

Espero que vocês também aproveitem e tomem esta pequena aula apenas como um ponto de partida para uma aventura de muitas possibilidades de criação que os engobes permitem.

 

 

Pequena introdução

 

Uma argila mais clara ou mais escura em forma líquida/pastosa aplicada a uma peça ainda úmida com os próprios dedos ou com um pincel é a primeira forma de pintura na cerâmica e isso não deixa de ser um engobe.

Posteriormente, o uso dos óxidos e dos corantes na cerâmica possibilitou uma variação de cores bem maior simplesmente misturando esses corantes ou óxidos à argila e água. 

 

Mais recentemente, a indústria e consequentemente os ceramistas começaram a adicionar nessa mistura algum tipo de fundente para facilitar a aplicação e melhorar a fixação. 

Esse fundente pode ser um esmalte cru, formulado pelo ceramista ou comercial, ou uma frita, que não deixa de ser um de esmalte.

 

Mas agora bagunçou nossa cabeça!

Porque se antigamente, e eu sou dessa época, engobe era só uma barbotina colorida que se aplicava na peça ainda crua, em ponto de couro e portanto engobe era engobe e esmalte era esmalte.

Hoje, alguns engobes comerciais podem ser também aplicados em peças biscoitadas.


 

E é aí que entram os underglazes

Under – em baixo

Glaze – esmalte

Existe várias marcas fabricando os engobes para nós.

E eles são cremosos, deliciosos de aplicar, fixam super bem em qualquer tipo de argila, com uma variedade de cores.... e que podem como falei, inclusive ser usados na peça já biscoitada.

 

As opções do underglaze no mercado são muitas e tirando o valor, porque eles não são baratos, só têm qualidades.

 

Mas para mim nada substitui a diversão de testar meus próprios experimentos, entender e manipular minhas próprias receitas.

E é isso que quero passar para vocês, compartilhando duas receitas que acho que darão muito certo em diferentes condições de queima e dois modos diferentes de preparar também.

 

Antes disso, só mais algumas dicas de como trabalho:

Aplico os engobes preferencialmente nas peças em ponto de couro, já trabalhei sobre peças recém finalizadas e ainda bem úmidas, mas a aplicação é melhor se ela estiver um pouco mais seca para absorver o engobe. Mas também cuidado se estiver seca demais. O ideal é que o engobe perca a água e retraia junto com a peça de forma uniforme.


Quando quero uma cobertura bem homogênea aplico duas ou três camadas sempre esperando a de baixo secar. 

Aqui no atelier eu praticamente nunca utilizo monoqueima. Então para as peças com engobe também faço primeiro a queima de biscoito e depois aplico um esmalte transparente antes da segunda queima.

    O uso do engobe não altera em nada o método de esmaltação que você usa. 

    Pode ser banho, pincel ou compressor. E nada impede de ainda aplicar por cima dos             engobes esmaltes coloridos e depois fazer a segunda queima.

     Durante a queima os engobes irão se incorporar com a camada superficial da peça     criando uma unidade com o corpo cerâmico permanente e durável. 

 

   Mas agora vamos á parte prática.


    E eu vou passar para vocês 2 receitas que já testei muito aqui.

Para essas medidas você vai precisar de um potinho de mais ou menos 100ml

Você pode alterar a cor usando qualquer outro corante para cerâmica ou óxido cromóforo. Mas aí aconselho fazer meia receita para testar. Cada óxido tem um poder de coloração e os corantes variam bastante também.

 





Estas receitas foram testadas para alta temperatura. Eu queimo entre 1240 e 1260 graus. você pode usar essas receitas para a temperatura que estiver acostumado mas se você utiliza queimas abaixo de 1200 graus aconselho fazer uma pequena amostra antes. 




 

 São 3 elementos básicos que entram na composição: 

 

1- argila em pó, peneirada em malha fina, de preferência a mesma da peça ou pelo menos do mesmo fabricante para não dar diferença de retração

 

2- fundente, que vai ajudar na fixação da camada de engobe à superfície da peça; (eu uso esmalte transparente que preparo aqui mas pode ser um esmalte comercial ou uma frita) 

 

3- corante mineral ou óxido cromóforo (que são os que dão cor como por exemplo o óxido de ferro ou de cobalto. Existem óxidos que não têm a função específica de dar cor ao engobe, mas que podem entrar na sua composição para dar algum efeito. É o caso do Óxido de titânio por exemplo.

 

 

A função dos engobes é colorir a superfície da peça, já que normalmente o engobe é de cor diferente da argila usada para confeccionar a peça.

Os engobes possibilitam trabalhos de decoração bem interessantes

A aplicação normalmente é feita com pincel macio, em duas ou três demãos para dar uma total cobertura e pode ser posteriormente polido com uma pedrinha, uma colher e até um pedaço de plástico. Quando mais polida a peça, mais acetinada será após a queima.

 

 

§  sgrafitto: quando o engobe estiver quase seco, usa-se uma esteca de metal própria para escavar e criar desenhos que terão a cor da argila usada para confecionar a peça.

§  máscaras: aplica-se na peça pedaços de jornal cortado ou rasgado e úmido. Com um pincel chato e macio aplica-se o engobe e depois retira-se a máscara.

 

 

 

 Os óxidos que mais uso para coloração de engobes são: Óxido de Cobalto para obter tons de azul,  Óxido de Cobre para os tons verdes e o óxido de ferro para marrons.  

Quanto aos corantes cerâmicos existe uma paleta grande de cores disponível em lojas especializadas em produtos para cerâmica.  É importante se certificar que o corante escolhido resiste a temperatura de queima utilizada. 

Tanto os corantes quanto os óxidos podem ser misturados entre si. Mas cuidado, pois o poder de coloração normalmente é diferente para cada um deles.

 







Para a preparação uso argila e porcelana em pó. Corto pequenos pedaços em lâminas finas, deixo secar bem e trituro. Depois passo em uma peneira de malha fina e descarto o que não passou pela peneira. Faço a pesagem de tudo que é seco e depois adiciono a água. 

É muito importante que a preparação esteja bem homogênea e na consistência de iogurte.então tem que misturar bem.

A outra maneira de preparo que eu particularmente gosto mais é aumentar em 3 vezes a quantidade de água sugerida na receita, misturar bem e passar em uma meia de seda.deixe decantar por dois ou três dias e descarte a água.

 

 



DUAS RECEITAS 

 

Azul DP

Argila marfim           70gr

Porcelana                  28gr

Frita 621                   18gr

Ox Cobalto.                4gr

Água                          90gr



 

Branco DP

Argila marfim             40gr

Porcelana                    25gr

Ox titaneo                   15gr

Esmalte Mayco FN01 15gr 

Agua.                           50ml 


 

 

 

 



As Aguadas de Óxidos



Compartilho com vocês uma técnica que me fascina e que há anos utilizo. 
Considero um verdadeiro tesouro no mundo da cerâmica: as aguadas de óxidos. 
Com um custo bem acessível, as aguadas de óxidos podem transformar peças simples em peças únicas e significativas, criando efeitos que muitas vezes superam as expectativas.

A aplicação de óxidos cromóforos (como o cobalto, o cobre, o ferro, o manganês, que são conhecidos por suas propriedades de coloração na cerâmica), diluídos em água e aplicados na superfície da cerâmica; em reação com os minerais do esmalte na queima produzem cores e efeitos visuais surpreendentes.

 


 

 

Como faço minhas aguadas de óxidos?

Proporções e orientação 

 

Certifique-se de lidar com os óxidos com cuidado e use máscara de proteção.


Utilizo basicamente 3 óxidos metálicos que são vendidos em casas de produtos específicos para cerâmica e se apresentam em forma de pó. 

Se é a primeira vez que vai comprar óxidos não se assuste com as cores que receber. 

Elas não correspondem em absoluto ao resultado final. 

Cada um deles produz uma cor na reação com o esmalte e em queimas sem redução de oxigênio.

Cobalto - Co - produz azul

Cobre - Cu - produz verde na maioria das queimas 

Ferro - Fe - produz variações de marrom


 

O poder de coloração de cada um também é bem diferente. 

Isso quer dizer que para uma intensidade de cor semelhante teremos que usar quantidades diferentes de óxidos para a mesma quantidade de água. 

 

Então vamos lá:

Para 300ml de água da torneira aqui em nosso país (na Europa a água é calcária por isso alguns autores aconselham usar agua mineral): 

Ox Fe - 20g

Ox Cu - 10g

Ox Co - 5g

 


 


É possível alterar bastante essas proporções duplicando, triplicando ou quadriplicando a sugestão dada para alcançar cores bem intensas e efeitos diferenciados.


No entanto eu não altero muito a sugestão de diluição quando trabalho com cerâmica utilitária 

Os óxidos em muito alta concentração podem conferir alguma toxidade aos alimentos (not food safe)



Os óxidos são muito mais pesados que a água, o que quer dizer que decantam muito rápido. 

Para uma mesma intensidade misture a aguada com o pincel a cada vez que for molhá-lo.

Mas o interessante é trabalhar diferentes intensidades de cor com um único copo da aguada. 

Para isso é só pegar a mistura mais do fundo ou mais de cima do copo. 

Mas lembre-se do que falei no paragrafo anterior. 



Normalmente aplico a aguada na peça biscoitada. 

Posso umedecer antes de aplicar a aguada com pincel ou borrifador para obter um efeito aquarelado, lixar principalmente peças que têm relevo e realçar bastante o desenho ou sobrepor camadas pois a aguada seca quase imediatamente. 


Entretanto é possível também aplicar na peça crua ainda úmida ou em ponto de couro. Neste caso ela não vai absorver com tanta rapidez o que pode dificultar alguns processos.


 


O trabalho com as aguadas não vai produzir uma cor sólida. As marcas do pincel vão estar presentes. O óxido de cobre, diferentemente do ferro e do cobalto, tem uma característica curiosa. Ele espalha e cria um efeito “desfocado” depois de queimado que é bem visível se traçarmos uma linha com o pincel.

 



São muitas as maneiras para aplicar as aguadas. 

Com pincel, esponja, borrifador, ou como sua criatividade te guiar. 

 

É possível criar efeitos mais rústicos com cores terrosas sem a aplicação do esmalte por cima da aquada. 


Neste caso a peça é levada novamente para o forno em temperatura mais alta para a fixação dos óxidos ao corpo cerâmico. 

 

Os óxidos revelam toda sua exuberância na reação com o esmalte. A aplicação de um esmalte transparente ativará as cores de maneira quase mágica.




Os óxidos na superfície da peça saem com bastante facilidade. 

Então, se sua opção for esmaltar, aconselho aplicar um esmalte transparente por aspersão, (com pistola e compressor) já que a aplicação por pincel pode borrar o trabalho. 

O banho pode ser uma boa opção mas não se esqueça que com o tempo o óxido presente na superfície das peças vai colorindo seu esmalte no balde do banho.

Curiosamente e contradizendo o que falei acima, tive excelentes resultados usando o esmalte transparente S2101 da Mayco com pincel (ele não manchou os óxidos e ainda queimei a 1240º - bem mais alto que a indicação do fabricante 😳)




O óxido de cobre tem um ponto de “derretimento” mais baixo que o cobalto e o ferro, portanto pode agir como fundente na mistura do esmalte. Mas não vamos avançar neste nível de detalhes e com bastante segurança vamos dizer que a temperatura da queima final deve sempre respeitar a temperatura do esmalte que estará usando.





Os esmaltes afetam o resultado final na cor, e determinam o brilho e textura.


Portanto, é sempre aconselhável fazer testes em pequenas peças 

antes de partir para grandes aventuras com os óxidos

 

 



O engobe é uma argila em estado líquido/pastoso a qual foi acrescentada corantes e/ou óxidos cromóforos e algum fundente. 


Calma! Eu explico!


A argila na consistência de iogurte é colorida e aplicada nas peças cruas, ainda úmidas, mas já firmes. Chamamos este estágio de secagem de ponto de couro e neste estágio o engobe vai encolher junto com a peça de forma uniforme durante a secagem.


A função dos engobes é simplesmente colorir a superfície da peça ou possibilitar trabalhos de decoração bem interessantes, já que normalmente o engobe é de cor diferente da argila usada para confeccionar a peça.


A aplicação normalmente é feita com pincel macio, em duas ou três demãos para dar uma total cobertura e pode ser posteriormente polido com uma pedrinha, uma colher e até um pedaço de plástico. Quando mais polida a peça, mais acetinada será após a queima.


Lembre-se que ENGOBE É ARGILA!!!!!! Sua função é dar cor e possibilitar efeitos específicos e bem variados como: 

  • sgrafitto: quando o engobe estiver quase seco, usa-se uma esteca de metal própria para escavar e criar desenhos que terão a cor da argila usada para confecionar a peça.
  • máscaras: aplica-se na peça pedaços de jornal cortado ou rasgado e úmido. Com um pincel chato e macio aplica-se o engobe e depois retira-se a máscara.
  • incrustação: faz-se riscos grossos no corpo cerâmico ainda em ponto de couro e aplica-se com pincel o engobe dentro dos sulcos. É uma técnica trabalhosa já que o engobe, mais úmido que a peça retrai mais e encolhe dentro do sulco, obrigando a reaplicação. Depois ainda é necessário raspar a superfície retirando os excessos dos sulcos.


A peça trabalhada com engobe depois de bem seca vai para a primeira queima, normalmente feita em torno de 900ºC e pode receber o vidrado (esmalte) que costuma ser transparente.


Os engobes são vendidos comercialmente e você encontra muitas opções de cores. 


Mas você pode preparar os seus. São 3 elementos básicos que entram na composição: argila, de preferência a mesma da peça para não dar diferença de retração; fundente, que vai ajudar na fixação da camada de engobe à superfície da peça; (eu uso um esmalte transparente) e a cor que é obtida através de um corante mineral ou óxido cromóforo (que são os que dão cor. Mas existem óxidos que entram na composição dos esmaltes e não têm cor).


Os óxidos que mais uso para preparação de engobes são: Óxido de Cobalto para obter tons de azul,  Óxido de Cobre para os tons verdes e o óxido de ferro para marrons e Óxido de titânio para clarear e obter efeitos interessantes na queima do esmalte. 




                                             Minha aluna Tihoko Yonamine feliz da vida com seu vaso de engobe!