Você sabe que a argila precisa ser queimada para ganhar resistência, certo?
Mas você sabe por quê?


O que chamamos cerâmica é na verdade a argila queimada.
Em torno de 600 graus a argila adquire resistência e não se dissolve mais na água. Nessa temperatura de queima a cerâmica é ainda muito frágil e porosa. Mas quanto mais aumentamos a temperatura, mais resistente ela fica.
A composição das argilas varia bastante e para atingir o máximo de resistência e impermeabilidade é preciso que a queima chegue próxima ao ponto de sinterização. A sinterização é um processo que ocorre em temperaturas elevadas, próximas da temperatura de fusão e cria uma alteração na estrutura molecular da argila. Para a cerâmica artística esta temperatura varia entre 800 e 1300 graus.
Para fins artísticos, normalmente a cerâmica sofre duas queimas. A primeira por volta dos 800 a 850 graus é a queima do biscoito. A peça ainda é bem porosa e está pronta para receber o esmalte. A temperatura do esmalte varia de acordo com a finalidade, resistência e estética que o ceramista escolher.


Vamos falar aqui só da queima de biscoito por enquanto.
O aumento de temperatura requer cuidados e os motivos são 4.

1- Eliminação da água livre, que é a secagem propriamente dita. As peças feitas em argila só podem ir para o forno depois de bem secas e com a secagem mais uniforme possível. Ainda assim, existe muita água que até a temperatura de 200 graus vai saindo em forma de vapor. Esta etapa da queima tem que ser lenta (por volta de 2 horas) e de preferencia com a porta do forno entreaberta.

2- Eliminação da água química, que é a saída de toda a água das peças e ocorre entre 200 e 400 graus. Peças muito espessas podem estourar no forno nesta etapa.  

3- Inversão da sílica, que sofre uma transformação química, provocando uma dilatação e aumento de volume por volta dos 570 graus.

4- Uniformidade da queima na ultima etapa, que vai depender da espessura das peças e do carregamento do forno.

Por estes 4 motivos, a queima da cerâmica (biscoito) deve ser lenta. Em torno de 8 horas.


E agora vamos falar de fornos.

Existem vários modelos e a escolha depende da finalidade, efeito que se pretende na cerâmica e disponibilidade do local de instalação. São feitos de tijolos refratários ou isolantes e normalmente revestidos internamente de fibra cerâmica. Quanto melhor for a isolação, menor será a perda de combustível sob forma de calor no ambiente.
Todos os fornos são constituídos por: uma fonte de calor, confinamento e saída de gases.
A fonte de calor pode ser eletricidade, gás, ou lenha, ou as vezes um combinado de 2 tipos.

Os fornos elétricos utilizam resistências em toda a câmara de confinamento e os gases saem por uma pequena abertura no teto. Possuem automatização para o desligamento automático e opção para personalização das curvas de queima.


Os fornos a gás possuem queimadores (maçaricos) onde se regula a chama para aumentar a quantidade de calorias na câmara até chegar na temperatura desejada. Podem ser automatizados ou manuais. A dimensão do forno vai determinar a quantidade e capacidade dos botijões. 



Os fornos a lenha têm queimas mais imprevisíveis, necessitam de mais espaço, tanto para a construção como para o armazenamento da lenha, e mais tempo e dedicação do ceramista, pois a lenha é colocada manualmente e normalmente as queimas duram mais de 16 horas
Não tenho experiência neste tipo de queima mas coloco aqui um link para a construção de um forno a lenha que me pareceu muito interessante:

http://ceramicaufsj.blogspot.com.br/2010/10/oficinas-do-contaf-2010-construcao-de.html